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16/01/2022 às 11h36min - Atualizada em 16/01/2022 às 11h36min

Pará: Aumento nos atendimentos deixa profissionais em alerta

O DIÁRIO ouviu profissionais que atuam na linha de frente nos hospitais. Confira!

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Antes de qualquer número ou estatística, os efeitos reais da pandemia foram sentidos de imediato e em primeira mão na rotina diária dos profissionais de saúde em todo o mundo. Seja nos períodos mais críticos da pandemia ou ainda no início da redução do número de casos, após o início da vacinação, nos postos de atendimento, unidades de emergência e nos hospitais se tinha um termômetro do cenário. Mesmo com um grande percentual da população adulta já vacinada contra o novo coronavírus e diante de um cenário estatístico ainda de controle da doença, a circulação da nova variante de preocupação, a Ômicron, e o surto de gripe inquietam quem atua no atendimento direto ao paciente.

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Mesmo que a situação encontrada ainda seja de relativo controle, o novo aumento no volume de demandas por atendimento já é percebido em alguns hospitais e unidades de saúde da rede pública de assistência no Estado. Atuando em dois hospitais da rede pública e que são referência para os casos graves de Covid-19 em Belém, o enfermeiro Ivison Carvalho conhece bem os impactos causados pela Covid-19 no sistema de saúde.

Na linha de frente desde o início da pandemia, ele avalia que a situação atual ainda é de controle, mas que não deixa de inspirar cuidados. “As equipes encaram essa nova possibilidade de aumento dos casos com apreensão e seriedade. Todos sabemos dos riscos, das consequências da superlotação, da dificuldade na prestação de uma assistência de qualidade”, considera. “Fizemos nosso dever de casa nas primeiras ondas, aderimos à imunização maciçamente, estruturamos nossos protocolos de atendimentos e certamente estamos mais preparados do que quando tudo isso começou. Mas o medo é inevitável”.

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O enfermeiro aponta que, nos locais em que trabalha, a situação ainda está sob controle, mas já se observa um crescimento na demanda por atendimento. “A rede ainda tem uma relativa complacência, mas já temos visto um sensível aumento de casos graves, especialmente em pessoas que não aderiram à imunização, vítimas evitáveis, numa proporção de mais de 80% dos casos graves em relação a quem já se vacinou”, pontua.

“A situação atual não aponta para novo lockdown, por exemplo, os planos de contingência evoluíram bastante, o sentimento é de que não tenhamos que inaugurar às pressas hospitais de campanha como da outra vez, a imunização e as medidas de prevenção nos fazem crer que será sensivelmente diferente”.

Ainda que se tenha evoluído em relação ao próprio conhecimento acerca da doença, o enfermeiro alerta que a experiência também já demonstrou para toda a sociedade aonde o desrespeito às práticas preventivas à Covid-19 pode acabar levando. Portanto, é preciso considerar que o ‘pesadelo’ ainda não acabou. “A adesão às práticas preventivas e a imunização foram, comprovadamente, as medidas mais eficazes para a freada na propagação do vírus”, considera. “Portanto uso de máscara, evitar aglomerações, higienização das mãos e vacinação são ações que a população não pode desconsiderar”.

O chamado à responsabilidade coletiva com as medidas de controle da doença também é feito pela médica pediatra intensivista Susan Sales, que também atua na rede pública de saúde, em Belém. Diante do que já vem sendo observado no sistema de atendimento, a médica não tem dúvidas de que a população poderia colaborar mais com o controle da Covid-19.

TRABALHO

“Os profissionais de saúde estão exaustos. Estamos completando dois anos de trabalho intenso em condições adversas, estrutura precária, com falta de insumos e é preciso cobrar responsabilidade individual em prol da coletividade, em prol da sociedade”, considera. “Nós entendemos a necessidade da população em retomar atividades econômicas, sociais, culturais, mas é visível que houve um grande relaxamento com as medidas de prevenção da Covid. São medidas simples, que todos nós conhecemos, mas que, se aderidas com responsabilidade, podem colaborar para o controle da transmissão desenfreada tanto da Covid-19, quanto das demais infecções virais respiratórias que acometem a população, principalmente os idosos e as crianças, e que também podem sobrecarregar o sistema de saúde”.

Durante a rotina de trabalho, a médica aponta que já vem observando aumento na demanda por atendimento. Ela observa que, apesar da ampla vacinação dos adultos contra a Covid, muitos casos têm acontecido e, inclusive, acometendo os profissionais de saúde novamente. “A nossa rotina de trabalho tem sido prejudicada e mudou bastante, tanto pela nossa sobrecarga de trabalho, mas também pelo adoecimento dos profissionais de saúde e de seus familiares”, aponta.

“Nós voltamos a ter medo da infecção porque casos graves têm acontecido, predominantemente em crianças que ainda não tiveram a chance de serem vacinadas e também naqueles indivíduos ainda não vacinados, claro, mas o medo voltou a ser real, o medo de contaminar os nossos familiares e de que isso possa trazer consequências graves também para a nossa família”.

A médica observa que, mesmo que os casos de Covid-19 sejam leves para os indivíduos com esquema vacinal completo, o quadro demanda um isolamento respiratório por um tempo determinado para que se possa interromper a cadeia de transmissão do vírus. Com isso, os serviços de saúde acabam funcionando com déficit de funcionários, prejudicando ainda mais a assistência.

“A demanda de trabalho voltou a aumentar nesse momento porque temos várias infecções respiratórias causadas por vírus diversos, além do coronavírus. Esses vírus têm acometido principalmente idosos e crianças, que têm sido o maior número de usuários presentes nos hospitais e necessitando de internação”, aponta. “Em pediatria, por exemplo, em alguns hospitais o número chegou a triplicar, quadruplicar e, com isso, exigiu uma reestruturação daquele serviço de atendimento em pediatria”.

Com o aumento das infecções respiratórias virais, Susan aponta que já se espera um aumento das internações por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), porém, outros fatores têm gerado preocupação. “O que tem nos surpreendido na pediatria é o aumento das internações por pneumonia bacteriana grave após as infecções virais. Nós temos tido muitos pacientes evoluindo com essas pneumonias complicadas graves, com necessidade de internação hospitalar de urgência, internação em leito de UTI e de procedimentos cirúrgicos de urgência. Esses pacientes acabam demandando um tratamento hospitalar prolongado, sobrecarregando também o sistema de saúde”, considera.

Em outra frente de atendimento, o de urgência e emergência na rede pública do interior do Estado, no município de Ruróplis, na região do Baixo Amazonas, a enfermeira Rebeka Fonseca também observa uma sobrecarga na demanda por atendimento de pacientes com sintomas gripais.

Trabalhando, habitualmente, no turno da noite, ela costuma observar um aumento significativo no número de pacientes que buscam pelo atendimento por não conseguirem suportar a dor no corpo e outros sintomas em casa. “Já estamos vivenciando uma situação de sobrecarga, até porque os colegas enfermeiros também estão gripando. Hoje, a maioria dos atendimentos lá na urgência estão sendo por síndromes gripais”, aponta. “A própria demanda por medicamentos para tratamento de sintomas gripais aumentou bastante”.

Leitos de UTI

Ainda no Baixo Amazonas, a médica intensivista Livia Corrêa e Castro, que também atua em um hospital da rede pública, aponta que o aumento da demanda levou à necessidade de aumento do número de leitos de UTI destinados a pacientes com Covid-19, ainda que a situação seja de controle. “A gente vem trabalhando dentro da normalidade esperada para a Covid. Aumentou um pouco o número de leitos do hospital. A gente estava trabalhando com 10 leitos até o mês de novembro e depois disso eles aumentaram para 20. Estamos com 20 leitos de UTI Covid-19 no momento e, por enquanto, estamos conseguindo administrar esses 20 leitos para ademanda da região”.

A médica considera que, até o momento, a situação dentro das UTIs é de controle. Não se observa nenhum surto que esteja ocasionando fila ou aguardo de vagas em UTI. De qualquer modo, é possível observar aumento na demanda por atendimento diante de alguns comportamentos que poderiam ser evitados.

“A gente vem conseguindo equalizar os leitos e a espera pelas vagas de UTI não tem sido muito prolongada”, aponta. “Mas a gente observa, mesmo, que a população poderia ajudar mais, evitar festas, aglomerações, usar mais a máscara. A gente tem observado de forma bem visível que após alguma festa ou show na cidade, aumenta um pouco o número de casos em torno de 15 dias depois”.


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