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17/05/2017 às 19h16min - Atualizada em 17/05/2017 às 19h16min

Belchior: Morre o homem, nasce a lenda

O artista que marcou uma geração morreu anônimo no Rio Grande do Sul

Kleysykennyson Carneiro - Jornal In Foco
Reprodução Google
Morreu na manhã do último dia 30 o cantor e compositor Belchior. Sumido da vida pública há 10 anos, o artista adotou um exílio pessoal em algumas cidades do Rio Grande do Sul e também do Uruguai, mas passou os últimos 4 anos de vida na cidade de Santa Cruz do Sul que fica a cerca de 120 quilômetros da capital Porto Alegre. Foi essa a última morada do artista que marcou uma geração. Segundo o laudo médico, o rompimento da artéria aorta foi a causa da morte do cantor. O artista foi velado e sepultado no último dia 2 em sua cidade natal, Sobral no Ceará.
 
Conhecido pelos versos impactantes e pelas “canções perpétuas”, Belchior se tornou andarilho nos últimos anos de vida. Sempre ao lado da mulher, viveu em casas cedidas por amigos e tinhas as despesas pagas pelos mesmos anfitriões. À época do seu sumiço, problemas financeiros foram atribuídos como causa das suas decisões de isolamento. O artista virou notícia na internet por conta disso e campanhas de “volta Belchior” viralizaram na grande rede.
 
Carros abandonados e o acúmulo de dívidas de estacionamento também foram notícia, bem como as diárias não pagas de um hotel na cidade de Artigas no Uruguai. Os valores chegariam a mais de R$ 30 mil. A voz que inspirou milhões se transformava nas manchetes que jamais quis ser e nem deveria ter sido. Belchior, um rapaz latino americano, viveu no fim do vida sem dinheiro no banco e sem parentes importantes, mas teve amigos e isso, sem dúvidas, o fez feliz.
 
Belchior e sua esposa se tornaram andarilhos no final da vida, não tinham nada, mas há quem diga que o lendário artista pouco se importava com isso. Acho que ele se cansou. Cansou do palco e cansou de um mundo nada bonito. Belchior quis ser livre e o foi à sua maneira e não cabe a ninguém julgar as escolhas que um homem faz em sua vida. Ninguém escreveu como Belchior, ninguém! E não devemos nos enganar! Ele não foi um poeta romântico! Belchior falava de problemas sérios, angústias e medos.
 
Os versos deste poeta eram de uma grandeza que transcendeu a vida. No centro da sala/ Diante da mesa/ No fundo de um prato/ Comida e tristeza/ Eu ainda sou moço pra tanta tristeza. Versos como este, da canção “Na hora do almoço” mostram uma veia amarga, dramática, angustiada. Por conta das melodias belíssimas, o bigodão, o jeitão de bom moço, Belchior foi confundido como um romântico, mas ele não era bem isso e duvido muito que tenha buscado esse estigma.
 
Com a canção “Fotografia 3x4”, o poeta narra um pouco da sua história de “jovem que desceu do norte para a cidade grande e era parado nas esquinas pelos guardas da época que estranhavam o lugar de onde tinha vindo”. Ele era um legítimo representante do nordestino que tenta a vida na cidade grande e que sofre até vencer, mas a música salvou Belchior e sei, que apesar de ter dado as costas para a sua carreira, ele era grato a ela por tudo e a música brasileira é melhor por causa dos versos deste ícone e precisamos todos saber disso.
 
“Os homens passam e as músicas ficam”, dizia Raul Seixas, seu contemporâneo. Belchior se foi, mas está mais vivo do que nunca. Sua obra é eterna, suas canções são perpétuas, atuais, atemporais. A arte é a arte, o tempo não muda isso. Morre o homem e a lenda nasce. Uma lenda de bigodes grandes, voz fanha, olhos bondosos, versos afiados e uma mente privilegiada. Ficamos sem saber se Belchior realmente existiu ou se foi só um delírio, um sonho louco que uma nação sonhou e desejou nunca mais acordar. Belchior voou com o vento, bem alto... Pra bem longe, pra outra rota...
Ei, Belchior, volta!
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