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11/09/2017 às 08h09min - Atualizada em 11/09/2017 às 08h09min

Documentário sobre Fordlândia mostra o paralelo entre o ciclo da borracha e soja

Diário do Pará

No interior da Amazônia, o magnata norte-americano Henry Ford plantou suas moedas e investiu na cultura da borracha para fazer os pneus dos carros da empresa que leva seu nome até hoje. Foi no oeste do Pará que essa história recente da indústria automobilística não germinou completamente, mas no cerne desse acontecimento está a marca de um processo social na região. Em busca dessa história, o realizador norte-americano Marcos Colón, que tem mãe brasileira, veio até aqui e ficou três meses filmando entre os municípios paraenses e apresenta no documentário “Beyond Fordlândia” um pouco da história da vila criada pelo industrial no município de Aveiro. O filme será inscrito em festivais e já foi pré-selecionado para o Cinema London Film Festival e para o CinAlfama Lisbon International Film Awards. 

“A gente procura discutir coisas mais sérias para a Amazônia atual. A chegada do Ford é um fato importante, pois são questões que se repetem na região com muita frequência, o descaso com o homem é histórico. Conhecia essa parte do país apenas por livros e quis fazer algo que saísse da representação imagética da Amazônia que não existe, tratando de repensar e reconsiderar o que está acontecendo. O mais interessante de tudo é esse gancho entre o Ford e a soja”, anuncia Cólon, que também é professor do departamento de Espanhol e Português e Associado de Pós-Graduação do Centro de Cultura, História e Meio Ambiente (CHE) do Instituto Nelson de Estudos Ambientais da UW-Madison, nos Estados Unidos, onde reside.

O plantio de soja avança e o cineasta investigou sobre o assunto. De acordo com Cólon, Ford fez investimentos no plantio dessa cultura para substituir a borracha por fibras do vegetal. O magnata já fazia pesquisa sobre o aproveitamento do material para outros fins industriais desde a década de 1930. Quem auxiliou o cineasta a pensar sobre essa relação foi o jornalista Lúcio Flávio Pinto. 

“Inicialmente tinha ideia de roteiro de trabalhar as estradas, foram mais de 1,8 mil quilômetros entre Rurópolis e Aveiro, pela BR-163. Na primeira viagem, foi o verão inteiro, e depois retornei outras vezes cruzando e refazendo filmagem. Foi quando comecei a observar que tinha um elemento nessa cadeia: o homem. Esse foi o ‘turning point’, é o mesmo elemento vilipendiado e massacrado por todos os modelos econômicos. O homem está mais ameaçado que a floresta por todos esses projetos. A soja destrói a floresta, contamina os lençóis freáticos, acaba com a agricultura familiar”, critica.

Marcos Colón diz que a abordagem crítica já existia desde a concepção do documentário e que com a sua vinda para o estado, esta perspectiva se intensificou. Financiado por meio do Instituto Nelson de Estudos Ambientais, Centro de Cultura, História e Meio Ambiente (CHE) e Programa de Estudos Latino-Americanos, Caribe e Ibéricos (LACIS), o documentário é parte de sua pesquisa de doutorado, que analisa questões de meio ambiente a partir da literatura, mas sem uma visão romantizada. 

“Foi um processo, entrar nas matas da Amazônia, por estradas, físicas e metafóricas, de encontros e desencontros que te levam a um objetivo de perceber a Amazônia de outra maneira. Uma das linhas mestras do filme é tentar quebrar e repensar essas narrativas construídas ao longo do tempo. Mas o filme não pretende ser uma verdade, é apenas o recorte de uma verdade, é apenas um recorte de uma realidade”, sintetiza.
 

OUTRO OLHAR

Fordlândia é foco de outro documentário, “Cidades Fantasmas”, que venceu o “É Tudo Verdade — 22º Festival Internacional de Documentários”, promovido este ano. Neste trabalho, o vilarejo paraense está ao lado de outras cidades que também viraram sinônimo de abandono, como Villa Epecuén, na Argentina, que foi atingida por uma inundação, e Armero, na Colômbia, onde a população foi dizimada pela erupção do vulcão Nevado del Ruiz.Documentário dirigido por Tyrell Spencer, “Cidades Fantasmas” será exibido no próximo dia 16, às 20h30, no canal fechado Globo News.


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