Jornal In Foco Publicidade 1200x90
24/02/2024 às 17h56min - Atualizada em 24/02/2024 às 17h56min

A trajetória da mineração brasileira nas últimas quatro décadas

Francisco Alves
Brasil Mineral

Em novembro de 1983, quando lançamos a primeira edição da Brasil Mineral, o mundo estava às voltas com o enfrentamento da segunda crise do petróleo, detonada em 1979, por conta da revolução iraniana, quando os aiatolás derrubaram do poder o Xá Reza Pahlevi e implantaram a república dos Aiatolás, que se mantém no poder até hoje. Na época, o preço do barril do “ouro negro” chegou a 39 dólares (ao dólar da época).

O Brasil, então, continuava altamente dependente das importações de petróleo para suprir as suas necessidades de energia. Para o abastecimento da frota veicular, buscou -se a alternativa do etanol, dando origem ao Pró-álcool. E para a suprir a indústria, recorreu-se ao carvão energético, criando- -se o Pró-Carvão, que visava intensificar a exploração das reservas de carvão energético de Santa Catarina, Rio Grande do Sul e, em muito menor escala, Paraná. Também se começou a pensar na exploração de turfa e na produção de óleo a partir do xisto, do qual o estado do Paraná tem importantes reservas.

Inicialmente, o Pro-Carvão, visava elevar a produção nacional para 27 milhões de toneladas/ano a partir de 1985, o que exigia grandes investimentos. Ao mesmo tempo, procurou-se ampliar o uso do carvão em substituição ao óleo combustível em algumas indústrias, principalmente a cimenteira. Mas o uso do carvão energético nacional pela indústria esbarrava numa dificuldade: o seu elevado teor de cinzas, que chegava a 35%. As metas de produção do Pró-Carvão, então, foram reduzidas para 17 milhões t/ano, depois para 13 milhões t/ ano e, finalmente, para 9 milhões t/ano. E o boom que era esperado para a indústria nacional do carvão mineral não aconteceu.

A mineração brasileira, vivia basicamente do minério de ferro, do ouro (o Brasil chegou a ser o maior produtor do metal na América Latina) do alumínio e do carvão. O minério de ferro, cuja produção era liderada pela então CVRD (Companhia Vale do Rio Doce), além de suprir as siderúrgicas nacionais, todas controladas pelo Estado, sob o guarda-chuva da Siderbrás, era também exportado, principalmente para o Japão, Europa e em menor escala para os EUA. Além da Vale, atuavam na produção a Caemi, capitaneada pelo grupo Azevedo Antunes, a alemã Ferteco, a belga Samitri (grupo Arbed), a norte-americana Samarco (grupo Utah), além de grupos menores nacionais.

A produção de ouro era concentrada na Mineração Morro Velho, do grupo Anglo American e nos garimpos espalhados pela Amazônia. Nessa década entraram outros produtores do metal, como a então Rio Paracatu Mineração (RPM), que era controlada pela Rio Tinto e que atualmente se denomina Kinross. No final da década, entrou em produção a Mineração Serra Grande, em Crixás, que era controlada pela Mineração Morro Velho, em parceria com a Inco.No carvão havia, além da CSN, vários grupos privados locais de Santa Catarina e a estatal CRM – Cia. Riograndense de Mineração no Rio Grande do Sul, que dividia poderio com a Copelmi, de capital privado.

A entrada de Carajás

Com a descoberta das imensas reservas de minério de ferro na Amazônia, no final da década de 1960 e a intenção do governo militar de tentar desenvolver a região, inclusive por razões de “Segurança Nacional”, a então estatal Companhia Vale do Rio Doce foi incentivada a se associar com a U. S. Steel para explorar as reservas de Carajás, através da Amazônia Mineração, uma joint-venture entre as duas companhias. Porém, tendo em vista que o maior investimento a ser feito no projeto Carajás era a implantação da infraestrutura (uma ferrovia ligando Carajás ao litoral maranhense), com cerca de 900km, a U. S. Steel se retirou do projeto, sendo reembolsada pelo valor de US$ 50 milhões, que havia investido nos trabalhos de pesquisa. O governo criou o projeto denominado Grande Carajás, que visava a implantação de siderúrgicas e outros empreendimentos ao longo da ferrovia. Mas o projeto Grande Carajás não saiu do papel. Foram implantadas apenas algumas usinas de ferro-gusa à base de carvão vegetal, que geraram muita polêmica, por serem consideradas poluidoras e fatores de destruição da Amazônia, já que usavam carvão vegetal obtido das florestas.

Já o projeto de minério de ferro vingou, tendo sido implantado com recursos obtidos junto ao Banco Mundial. Projetado inicialmente para uma capacidade de 15 milhões de toneladas/ano de minério de ferro, o projeto entrou em operação em 1985 e impulsionou o volume de exportações de minério da CVRD. Atualmente, a capacidade de produção de minério de ferro em Carajás supera 200 milhões de toneladas/ano e deve chegar a 260 milhões t/ano a partir de 2025.


Link
Notícias Relacionadas »
Comentários »
Jornal In Foco Publicidade 1200x90