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08/04/2023 às 12h06min - Atualizada em 08/04/2023 às 12h06min

Páscoa: entenda relação da data com a primavera e sua origem na celebração a deusas pagãs

Coelho, ovo, flores são alguns símbolos ligados a deusas de tradições antigas e que foram integrados à Páscoa cristã.


Apesar da Páscoa ser popularmente conhecida como uma celebração cristã, este momento do ano tem relação com várias tradições. Os símbolos mais conhecidos, como o coelho e o ovo, nasceram há cerca de 10 mil anos antes de Cristo.
O g1 conversou com a mestra em Ciências da Religião, Mayra Faro, sobre a origem dos simbolismos que são utilizados até os dias de hoje. Ela também dá dicas de reflexões para o período de Páscoa.
Quem nunca ouviu o questionamento: qual a relação entre o coelho e ovo? Coelho bota ovo? O que esses símbolos têm a ver com a Páscoa?

Se buscar na internet, as definições parecem simples: ambos estão ligados à fertilidade. Ainda assim, o significado fica como uma ponta solta, mas há explicação histórica para a utilização deles e outros símbolos do período pascal.
 
Celebrações da natureza foram integradas às festividades cristãs
 
Entre o dia 20 e 22 de março foi celebrado o início da Primavera (chamado de Equinócio) no Hemisfério Norte, momento que dia e noite passam a ter duração iguais, a terra volta a ser fértil para a agricultura, plantas e flores começam a aparecer, animais saem da hibernação, e o dourado do sol reaparece. Um pouco depois, no mês de abril, esse momento da natureza fica mais intenso e perceptível.

No Hemisfério Sul, as estações do ano não são tão bem marcadas e aparecem de modo contrário ao Hemisfério Norte. No Brasil, o início da primavera é celebrado em setembro.
Contudo, com forte influência cristã, por aqui mantemos tradições primaveris no período da Páscoa.
A especialista em Ciências da Religião, Mayra Faro, diz que os simbolismos da Páscoa tiveram origem nas celebrações a deusas por antigos povos de cultura matrifocais, que tinham como foco a sacralidade ao feminino.
“Existem várias deusas que deram origem aos simbolismos que conhecemos da Páscoa, principalmente da região da antiga Mesopotâmia e Oriente Médio, onde hoje fica parte do Iraque, da Síria, onde influenciaram e deram origem às tradições judaico-cristãs que conhecemos. Ali tínhamos as deusas Ishtar e Inana, que tinham relação com os ciclos da natureza, especialmente a primavera”, explica Mayra.
Além dessas deusas, Faro acrescenta a deusa Eostre, de origem anglo-saxã, da região germânica, também ligada à estação primaveril, que talvez tenha influenciado bem mais a cultura ocidental. Aliás, o termos Páscoa em inglês tem origem no nome da deusa, "Easter".
 
“Ela é uma deusa conectada aos coelhos, que é um símbolo sagrado dessa deusa, e também ligada à Lua, que possui aquelas manchinhas e fazem lembrar levemente o formato de um coelho, o que também é lembrado na cultura chinesa e outras culturas antigas. A Lua influencia no ciclo da fertilidade, das águas, da agricultura, e existem culturas tradicionais aqui na Amazônia mesmo, que observam as fases da lua para fazer a colheita, a semeadura. Essa relação da Lua com a terra, com os ciclos de fertilidade da natureza já era observado há milênios e somado ao simbolismo da vida-morte-vida – fases nova, crescente, cheia e minguante -, que são sentidos que a Páscoa traz, com a morte e ressurreição de Cristo”, conta.
A especialista explica que os simbolismos foram agregados pela cultura cristã na época da ascensão do cristianismo pelo mundo ocidental como uma forma de associar esses elementos para que mais pessoas aderissem ao cristianismo.
“Não há como apagar totalmente uma cultura sem sincretizar elementos, como o coelho ou o ovo, que hoje é de chocolate, mas antigamente era o ovo de ganso, cisne, ou de outros animais, que reproduziam na primavera e no verão representando o retorno da fertilidade”.
 
“Natureza e seres humanos estavam profundamente interligados. Aconteciam vários rituais nesse período, tanto para celebrar essas deusas, quanto para celebrar a fertilidade da terra, rituais de purificação e oferendas a essas divindades para favorecer a agricultura e a saúde das pessoas, a vitalidade”, lembra Faro.
 
Apesar de, no Brasil, em especial na Amazônia, não se observar de forma definida as estações do ano, Mayra pontua a relação de chuva e sol e as possíveis percepções dos ciclos da natureza no Hemisfério Sul.
 
“Estamos num período de transição, não estamos nem no inverno intenso, nem no verão. Podemos considerar que estamos numa primavera amazônica, que ainda tem muita chuva, mas o céu azul começa a aparecer. Por mais que estejamos no hemisfério sul, conseguimos perceber uma aproximação com esses ciclos da natureza do hemisfério norte por estamos numa região próxima à linha do equador”, pontua.
 
‘Morte e vida’: diferentes crenças, mesmos significados
 
A Páscoa é celebrada em diferentes tradições, porém, o significado de vida-morte-vida, renascimento, retorno à vida, é recorrente, de acordo com a especialista.
“Para o judaísmo, a Páscoa tem relação com a passagem do povo judeu pelo Egito e a passagem pelo Mar Vermelho. Para esta tradição, a Páscoa representa a passagem da escravidão para a liberdade, da morte para a vida. Para os cristãos têm o significado da ressurreição de Cristo, do renascimento, retorno da vida, da esperança, retorno de Deus para o coração das pessoas”.
Mayra Faro diz que, hoje em dia, no Brasil e no mundo, há um movimento de resgate das tradições mais antigas, chamadas de neopagãs.
“Essas práticas estão retornando nas últimas décadas, como uma forma de se reconectar com a natureza, independente da religião”.
 
Rituais de celebração
Altar com símbolos que representam a primavera e também o período da Páscoa — Foto: Mayra Faro
Cada tradição tem uma forma de celebrar ou ritualizar a Páscoa ou a primavera.
Os cristãos, por exemplo, têm a prática de ir à missa e fazer celebrar a ressurreição de Cristo, mas de uma forma geral, independente de religião ou crença, Mayra sugere que é um momento interessante para refletir sobre quais aspectos da vida estão renascendo ou quais quer que renasça na vida.
 
“Mergulhar em si e pensar no que devemos deixar para trás, deixar que morram para renascer com mais amor, esperança no novo ciclo que está começando”.
 
Faro sugere ainda algumas perguntas para fazer a si durante a reflexão:
 
  • O que você quer que renasça na sua vida?
  • O amor, a prosperidade na família, nas relações?
 
Importante honrar o luto, seja de perdas físicas ou simbólicas, e honras pessoas que se sacrificaram por algo, mas não se manter no luto e na dor da morte. Permita-se renascer, seja a nível interno ou externo.
Abaixo, você confere ideias de decoração e itens que tem relação com o período pascal ou com a primavera.
Além de coelhos, que podem ser diversos materiais, e dos ovos, que podem ser coloridos, de chocolate, flores, incensos com aromas primaveris, velas, pedras preciosas e alimentos à base de trigo, podem fazer parte da celebração.
Decoração: coelhos, ovos de cores variadas, ninhos, flores, como jacintos ou narciso, podem estar presentes dentro e fora de casa. As flores simbolizam o ressurgimento da vida. Você pode distribuir essas flores após a celebração. As cores predominantes são verde, amarelo, laranja e cores claras.
 
Incensos: violeta africana, jasmim, rosa sálvia e morango.
Cores das velas: dourada, verde, amarela.
Pedras preciosas: ametista, água-marinha, hematita, jaspe vermelho.
Alimentos: os alimentos tradicionais da primavera são ovos cozidos, e à base de trigo, como bolos e pães, que representam fertilidade, além de leite e frutas da estação.
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