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06/03/2022 às 13h12min - Atualizada em 06/03/2022 às 13h12min

A Covid se foi, mas os sintomas...

Pessoas que foram infectadas pelo novo coronavírus, até mesmo na primeira onda, ainda sofrem com as sequelas da doença. Ministério da Saúde liberou R$ 160 milhões para o tratamento de sintomas pós-Covid

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O analista de sistemas Sandro Reis de Oliveira, 49, teve Covid ainda na primeira onda da doença, em março de 2020. Desde essa época seu olfato e paladar nunca mais foram os mesmos. “No ciclo da doença perdi o cheiro e o gosto das coisas e esses sintomas permaneceram mesmo agora, quase 2 anos depois, em muitos alimentos. O gosto das proteínas como carne, frango e peixe são diferentes. Toda vez que coloco uma carne na boca o gosto não é o mesmo de antes. É ruim, desagradável...”, comenta.

Segundo o Ministério da Saúde, de 30% a 75% dos pacientes acometidos por Covid-19 apresentam alguma manifestação depois da doença ter sido debelada do organismo. Entre os sintomas mais comuns, além da perda do paladar e olfato, estão o cansaço, falta de ar aos esforços, tosse, dor torácica, cefaleia, tontura, alterações de memória, ansiedade e depressão.

A preocupação é tamanha que o Ministério da Saúde anunciou o repasse de R$ 160 milhões para reforço da assistência na Atenção Primária à Saúde (APS) aos Estados para o cuidado de pessoas afetadas por sintomas pós-Covid. Com o recurso, os gestores poderão contratar profissionais qualificados e reformar e criar ambientes como espaços para fisioterapia, por exemplo.

Sandro diz que a pior sensação é constatar que você não permaneceu a mesma pessoa de antes da doença. “A gente se sente diferente das outras pessoas. A pior coisa é você não poder sentir o gosto certo das comidas que você mais gosta. A gente come porque tem que comer, mas é uma sensação muito desagradável...”, lamenta.

DISTORCIDO

A advogada Natália Nazaré Lima Cordeiro teve Covid em dezembro de 2020, com sintomas de falta de olfato, paladar, dor de garganta, gripe e resfriado. “Não cheguei a ser internada pois meu estado de saúde não se agravou”, lembra. Mas os sintomas de cheiro e gosto distorcidos, principalmente de alimentos tipo café, maracujá, carne vermelha e alguns perfumes que a advogada usa permaneceram.

“Eu não fui atrás de tratamento pois algumas pessoas relatavam os mesmos sintomas e diziam passar com alguns meses. Eles não atrapalham em nada na minha vida prática. Apenas a questão do olfato incomoda às vezes porque, como também trabalho com bolos e doces, antes me baseava muito pelos cheiros, e agora preciso estar mais atenta”.

Ela diz que pretendo procurar ajuda médica. “Mas prefiro me informar mais antes, pois confesso que não sei nem por onde começar, se tenho que procurar neurologista, alergista, infectologista...”, diz.

READAPTAÇÃO

O jornalista Matheus Freire, 26, pegou Covid em abril de 2020 após sua mãe se contaminar. “Senti apenas dores nas articulações, mas que foram leves. Na época me preocupei muito porque eu fumava e nesse período deixei de fumar. Engordei bastante, mas consegui enfrentar a doença numa boa”, relembra.

Em agosto do mesmo ano Matheus teve que viajar para o interior. “Foi quando me senti um pouco mal, com tontura, febre e moleza no corpo. Em seguida perdi o paladar e olfato. Era uma nova contaminação. Três meses depois, em novembro, comecei a sentir um odor estranho e meu paladar mudou literalmente. Até hoje ainda não estou 100%”.

Ele conta que quando perdeu o paladar em agosto de 2020, percebeu que aos poucos, ele estava voltando ao normal. “Quando foi em novembro, eu comecei a sentir uma diferença no olfato novamente...Para mim, só existiam 3 tipos de cheiro. Preocupado, comecei a treinar meu psicológico, pensando no sabor que cada alimento tem. Estou me readaptando”.

Senti apenas dores nas articulações, mas que foram leves. Na época me preocupei muito porque eu fumava e nesse período deixei de fumar. Engordei bastante, mas consegui enfrentar a doença numa boa”. Matheus Freire Jornalista

PARA ENTENDER

O médico infectologista Bernardo Porto explica que sintomas pós-Covid e sequelas não significam necessariamente a mesma coisa. “O paciente pode ter a Covid, se curar e eventualmente e pode apresentar um sintoma persistente além da duração da síndrome, como uma dor de cabeça ou uma falta de ar que podem acompanhá-lo por 2 ou 3 meses...Mas uma hora eles vão cessar”.

Por outro lado, explica, pacientes que apresentaram um grado de pneumonia grave, com insuficiência respiratória e fibrose do tecido pulmonar, por exemplo, jamais terão a mesma capacidade respiratória de antes da doença. “Esse é um quadro irreversível que podemos classificar como sequela”, diferencia.

Ainda muito pouco se sabe sobre o tratamento ideal para sequelas ou sintomas persistentes de Covid-19, que também é conhecida como “Covid longa”. “O que podemos recomendar é que o pacientes que apresentam esses quadros procurem especialistas de acordo com os sintomas que apresentem até que recuperem suas funções de antes. Ainda não existem remédios específicos para esse tipo de quadro”.

Sintomas pós-Covid

As condições pós-Covid podem manifestar-se de diferentes maneiras e dependem da extensão e gravidade da infecção, dos órgãos afetados e dos cuidados tomados durante a fase aguda da doença. Muitos pacientes apresentam sintomas persistentes ou novos decorrentes da infecção, o que deverá acarretar um aumento na demanda por cuidados prolongados e posteriores à infecção aguda nos serviços de saúde, especialmente na APS, segundo o Ministério da Saúde.

Estudo publicado na revista científica The Lancet sobre a evolução tardia de pacientes que passaram por internação por Sars-Cov-2 demonstrou que, seis meses após a infecção aguda, 76% dos 1.733 pacientes avaliados apresentavam algum sintoma persistente.

O cansaço e a fraqueza muscular foram os sintomas mais comuns, presentes em 63% dos casos, seguidos por dificuldade para dormir, ansiedade e depressão. Além disso, entre aqueles que desenvolveram casos graves da infecção, 56% desenvolveu algum tipo de alteração pulmonar significativa.

Outro estudo publicado no Epidemiology Infection, que acompanhou 767 pacientes após internação por Sars-Cov-2, 51,4% desses ainda se queixavam de sintomas após cerca de 80 dias do quadro agudo, mais comumente fadiga e dispneia aos esforços, e 30,5% ainda apresentavam consequências psicológicas pós-traumáticas. Difusão pulmonar prejudicada foi encontrada em 19%.

Programa do Estado já realizou mais de 33 mil atendimentos

O governo do Estado mantém o Programa Triagem Pós-Covid, que já realizou mais de 33 mil atendimentos de pacientes com Covid Longa e sequelas da doença em quatro regiões do Pará até o último dia 07/02.

Coordenado pela Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa), o Programa funciona na Policlínica Metropolitana, em Belém (25.416 atendimentos entre consultas e exames), no Hospital Regional do Baixo Amazonas (HRBA), em Santarém (7.159), no Hospital Regional Público da Transamazônica (HRPT), em Altamira (376); e no Hospital Regional do Sudeste do Pará (HRSP) em Marabá (376).

O objetivo é atender pacientes que apresentam sequelas da Covid-19, como alteração no paladar e olfato, ansiedade, rinite, insônia ou hipertensão arterial, entre outros sintomas que podem afetar a qualidade de vida do paciente. O programa tem a capacidade de realizar até 2 mil consultas por mês.

Segundo o secretário de Estado de Saúde Pública, Rômulo Rodovalho, muitos pacientes ainda precisam de atendimento após a recuperação da doença e não sabiam onde procurar ajuda. “Então decidimos implantar esse Programa para continuar cuidando das pessoas que se recuperaram da doença, mas ainda apresentam sinais e sintomas que os impedem de voltar à vida normal de antes do contágio”, informou.

Os pacientes que procuram o Programa Pós-Covid na Policlínica Metropolitana apresentam queixas clínicas que precisam ser investigadas e tratadas. As principais são de dor de cabeça, dor no peito, alteração na frequência cardíaca e dores musculares.

“Além da consulta médica, o paciente tem acesso a exames laboratoriais, de imagem e métodos gráficos tais como Raios-X do tórax e eletrocardiograma, que são fundamentais para a primeira avaliação. Se for necessário, o médico clínico pode encaminhar o paciente para consultas em outras especialidades dentro da própria Policlínica”, informou a diretora executiva da Policlínica Metropolitana, Lilian Gomes.

Serviço:

Agendamento nas unidades:

Policlínica Metropolitana

Agendamentos: pelo WhatsApps (91) 98521-5110 ou e-mail: agendamento. polimetropolitana@issaa.org.br.

Hospital Regional do Baixo Amazonas

Agendamentos: pelo telefone (93) 98122-6464, de segunda a sexta (com exceção de feriados), das 7h às 18h.

l Hospital Regional Público da Transamazônica

Agendamentos: pelo telefone (93) 98113-1506, de segunda a sábado, das 7h às 13h.

l Hospital Regional do Sudeste do Pará

Agendamentos: pelo telefone (94) 98171-0302, de segunda a sexta-feira, das 8h às 11h e das 14h às 17h.


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