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13/11/2017 às 12h03min - Atualizada em 13/11/2017 às 12h03min

100 anos de Revolução Russa e o cinema soviético

No centenário da Revolução Russa, mostramos o cunho político e até revolucionário do cinema produzido nas repúblicas soviéticas

Gazeta Online

A famosa cena de um carrinho de bebê em queda livre na escadaria de Odessa é um dos grandes símbolos da fase clássica do cinema soviético. Lançado durante a Revolução Russa de 1917, que este mês pelo calendário ocidental completou exatos 100 anos, o épico “O Encouraçado Potemkin” (1925) do cineasta russo Sergei Eisenstein, abusa de planos dramáticos para recontar a revolta histórica de marinheiros contra a monarquia czarista.

O cinema soviético surgiu a princípio na onda vanguardista do concretismo russo, tendo como principal foco socializar a arte e, principalmente, validar o governo socialista de Lênin. Mestre em Comunicação e Cultura e estudioso da cinematografia soviética, Alexandre Curtiss destaca a posição da sétima arte no contexto revolucionário de 1917.

 

“O cinema foi visto como algo muito importante até porque poderia atingir todos os cantos do país. Era, enquanto mudo, mais fácil de dialogar com camadas da população que antes não tinham acesso a diversas manifestações culturais reservadas para o mundo urbano e letrado”.

A desigualdade pulsante entre classes no período pré-revolução russa foi inspiração para o também diretor russo Pudovkin. Em “Mãe” (1926) – não se engane, nada tem a ver com o recente filme de Darren Aronofsky – as películas são tomadas pelo clima de revolta da classe operária frente às condições de vida e trabalho durante o czarismo de Nicolau II. Arte e revolução foram os principais ingredientes das produções soviéticas, mas não somente eles. Com um tom debochado e clima burlesco – uma espécie de arte performática de sátira ou paródia – o filme “As Aventuras Extraordinárias de Mr. West” (1924) reflete, por meio da comédia, a visão pejorativa dos norte-americanos em relação aos soviéticos e a revolução de 1917.

DOCUMENTAL

Diferenciando-se dos demais diretores do cinema clássico soviético como Eisenstein, Pudovkin e Kuleshov, Dziga Vertov abusou das experimentações estéticas em suas produções do gênero de documentário. Sob a visão peculiar de Vertov, “O Homem Com Uma Câmera” (1929) retrata o cotidiano, pessoas e situações da Rússia dos anos 1920 por meio de efeitos visuais, cortes súbitos e inesperados, uma característica até então pouco explorada pelo cinema soviético.

Quem também “abalou as estruturas” da cena soviética foi Sergei Paradjanov um cineasta armênio considerado o verdadeiro “proibidão” do cinema soviético. Isso porque sofreu censura e foi perseguido pelo governo soviético devido à sua homossexualidade durante os anos de 1960 e 1970 – período em que sr homossexual era considerado crime na URSS. Para Curtiss a má reputação de Paradjanov, hoje, é encarada como uma injustiça.

“Ele (Paradjanov) foi muito perseguido por motivos injustos, mas na fase final da União Soviética teve reconhecimento como grande artista que era”, explica.

Mesmo tachado persona non grata pelo governo soviético, Paradjanov conseguiu alcançar o patamar internacional com filmes como “A Cor da Romã” (1968). No enredo carregado de lirismo e ousadia artística, Paradjanov narra a história e vida do poeta armênio Sayat Nova abusando de planos e trilha sonora da cultura armênia. Quem assiste a “A Cor da Romã” pela primeira vez certamente sofrerá certo estranhamento devido ao banho de cores fortes e misticismo. A experiência, porém, continua sendo um excelente exercício para o olhar.

LEGADO

O mestre em Comunicação e Cultura, Alexandre Curtiss, que este ano ministra uma aula especial sobre a história do Cinema Soviético na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) destaca a herança deixada pela vanguarda russa.

Ele afirma que, além da contribuição para as técnicas de montagem, o cinema soviético também influenciou na postura política dos cineastas no envolvimento com questões sociais.

“Acho importante os valores sociais, éticos e humanistas que boa parte do cinema soviético defendia. Estamos indo rumo a barbárie social e cultural e o cinema soviético, com seus valores, aponta para o contrário. Porque ele valoriza o mundo do trabalho, porque empodera os grupos e classes sociais”, comenta.


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