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29/01/2020 às 11h10min - Atualizada em 29/01/2020 às 11h10min

Salvação: Brenda Woch teve família assassinada e saiu das ruas graças ao futebol

A mãe foi assassinada na frente da jogadora quando ela tinha 12 anos. Menos de dois anos depois, o pai e o irmão também foram mortos

- Jornal In Foco
Globo Esporte
Brenda Woch comemora gol pelo São Paulo — Foto: Arquivo Pessoal
Mãe, irmão e pai assassinados. A jogadora Brenda Woch perdeu a família cedo. A mãe foi assassinada na frente dela quando a atacante tinha 12 anos. No ano seguinte, o irmão também foi morto. Poucos meses depois, o pai. Todos vítimas do tráfico de drogas.
 
— Minha mãe vendia drogas para sustentar a família, somos oito filhos. Ela entrou no mundo do crime para nos dar de comer. Quando eu tinha 12 anos, invadiram nossa casa e atiraram na minha mãe. Eu estava ao lado dela, presenciei tudo, vi tirarem a vida dela. Depois de um ano, meu irmão Diego, que era usuário de drogas, também foi assassinado. E no ano seguinte, mataram meu pai — conta Brenda.



Brenda nasceu e cresceu em Maceió (AL). Começou a jogar futebol na rua aos 6 anos, com meninos. Aos 12, passou a defender o Parma Brejal, time masculino da capital alagoana — jogava como meia. E foi o futebol que a ajudou a seguir em frente depois de perder a mãe.
 
— Não deixei me abalar, sempre segui meu sonho de ser jogadora de futebol. Minha fé em Jesus e a vontade de orgulhar minha mãe me deram forças. Ao 12 anos, eu estava entrando na adolescência e sabia mais o que era bom e o que era ruim. Passei muitos anos sem conseguir falar sobre o assassinato da minha mãe, que vi com meus próprios olhos, porque doía muito. Mas hoje quero contar, por saber que posso ajudar muitas meninas que necessitam e que me têm como espelho.
 
Depois que a família morreu, Brenda pulou de casa em casa. Viveu com uma irmã, depois com outro irmão; em seguida, com um tio; até se mudar para a casa de uma tia, que se tornou seu lar definitivo. Aos 15 anos, o Craques do Futuro, outro time masculino de Maceió, a convidou para atuar como meia-atacante. Na maioria das vezes, jogava no barro e na lama.


 
Algumas semanas depois, para dar uma variada no cardápio, entrou como zagueira em uma equipe de futebol de areia, também masculina, chamada Falcão. Até que, quando Brenda tinha 16 anos, um time feminino de futsal a descobriu e a convidou: o Arepa Futsal. Lá, começou a ser vista por outros clubes, principalmente quando o time reuniu um grupo para disputar um torneio de futebol de campo organizado pelo Sesi.
 
Em 2016, Brenda fechou com o São Francisco do Conde (BA), que disputava a primeira divisão do Campeonato Brasileiro, mas não conseguiu se adaptar à equipe baiana. Voltou para Maceió e acertou com o União Desportiva, onde jogava campo e futsal e disputou a série A2 do Brasileirão e o Campeonato Alagoano.


 
Ela estava em casa e os ares alagoanos a fizeram bem. Com pouco tempo de União Desportiva, foi convocada para a seleção brasileira sub-20. Mas, na primeira experiência com a camisa amarela, não teve um bom desempenho e ficou bastante abalada.
 
— Achava que essa seria a única oportunidade que Deus me daria de jogar na Seleção e que eu havia perdido minha chance. Mas continuei me dedicando e me esforçando, fui contratada pelo 3B, do Amazonas, me chamaram para outra seletiva da Seleção e depois nunca mais parei de ser convocada — relembra.
 
Não parou mesmo. Mais convocações vieram em 2017 e, em 2018, disputou campeonatos importantes fora do país. Venceu o Sul-Americano Sub-20, no Equador, e disputou o Mundial sub-20 na França.
 
— Ganhar um Sul-Americano pode ser algo muito simples, mas é na simplicidade que a gente vê as obras de Deus. Para uma menina que perdeu tudo, totalmente desacreditada, foi muito importante ser campeã. Também fico arrepiada quando me lembro da partida contra a Inglaterra no Mundial — pontua a atacante.


 
Naquele ano, ela também foi premiada com um convite do Iranduba (AM), time da elite do futebol nacional. Brenda voltou a disputar a primeira divisão, onde a vitrine é maior. Em 2019, mais uma convocação e mais um país para a conta. A atacante disputou o torneio Nike Friends com a Seleção sub-20 nos Estados Unidos.
 
— De todos os lugares que conheci graças ao futebol, o que mais me marcou foi o Equador, porque visitei um orfanato lá e me apaixonei pelas crianças. Nenhum lugar me marcou tanto quanto o orfanato. Foi aí que nasceu meu sonho de criar uma instituição para ajudar as pessoas. Hoje, meu maior sonho é ser uma jogadora reconhecida, ter uma casa em que caiba toda a minha família e abrir uma instituição que ajude pessoas — ressalta.
 
No início do ano passado, Brenda sofreu um baque: rompeu o ligamento do joelho direito jogando futsal com amigas. Precisou passar por cirurgia e foram meses de recuperação. No segundo semestre, ela se recuperou e fechou com o São Paulo para a disputa do Campeonato Paulista, onde foi vice-campeã.
 

 
— Minha memória em campo mais marcante foi a final do Paulistão contra o Corinthians, com a Arena lotada. Mesmo com a maior parte da torcida sendo corintiana, a atmosfera estava incrível.
 
Para a próxima temporada, Brenda fechou novamente com o 3B da Amazônia, em Manaus. Ela está de férias em Maceió, na casa da tia, e se apresenta ao clube em 3 de fevereiro.
 
— Recebi uma proposta do 3B de um projeto muito bom para conseguir subir para a série A1. É um time que já conheço bem e onde fui muito feliz. Tenho muitas amigas na equipe e um ótimo entrosamento. Vou para a minha terceira temporada lá. Meu objetivo é ser campeã da série A2 — diz a jogadora de 21 anos.
 

 
— Eu me entrego muito. Desde os 6 anos eu jogava com os moleques e desde pequenininha eu tenho esse sonho de ser jogadora. Mesmo depois que minha família foi assassinada, não desisti. Espero que minha história possa dar forças a outras meninas — completa.

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