Jornal In Foco Publicidade 1200x90
13/08/2017 às 13h48min - Atualizada em 13/08/2017 às 13h48min

Hoje é meu dia!

​Eu podia estar roubando, podia estar matando, mas deixei tudo isso para amanhã porque, hoje, eu precisava dizer pra todo mundo como é bom ser pai

Paulo Silber
Eu podia estar roubando, podia estar matando, mas deixei tudo isso para amanhã porque, hoje, eu precisava dizer pra todo mundo como é bom ser pai. Muito bom. Ser pai é o melhor capítulo da aventura humana.

É um capítulo tão bom, que não acaba. Nunca! Você pode morrer, mas não deixa de ser pai. A não ser que seja morto pelo próprio filho, né? Uma prova incontestável de que você não foi um bom pai. Criou um psicopata, pô!

Mesmo nos casos de parricídio, o cara só deixa de ser pai, depois de morto, se o filho souber se livrar do corpo. Se acharem, fodeu:

- É seu pai? – vão perguntar pro filho no IML.

Ou então vêm os amigos dar os pêsames:

- Que horrível a morte do seu pai...

Porque aquele filho da puta não era pai deles.

Mas esses são casos raros, extremos e têm solução. Se você tem um pai tão ruim, mas tão ruim, que seja melhor matá-lo, que seja preciso apagar a existência dele da face da Terra, já existe até um curso prático de como se livrar do corpo sem deixar vestígios.

Basta procurar a escolinha do goleiro Bruno, que acaba de ser liberado pela Justiça para dar aulas. É batata!

Já os bons pais são eternos – mesmo enquanto duros. Só que não exista uma fórmula consagrada, tipo a fórmula da Coca-Cola, para ser um bom pai. Também não existe uma fórmula mágica, tipo a do Cicatricure, para transformar o cara rude em pai bacana. É mais fácil ajeitar a cara da Marília Gabriela.

Isso não quer dizer que ser pai é um bicho de sete cabeças. Não.

É um bicho de 300 cabeças! Não é fácil, não.

Mas tem uns truques. Eu sempre digo que a missão do pai é amar, prover e conduzir. Fica bonitinho assim, né? Três verbos no infinitivo, conjugados nas diferentes pessoas, representando a grandeza da paternidade, a abrangência das responsabilidades. Um trinômio de atitudes que dão brilho e quilate a essa fantástica experiência. Bacana, hein?

Só que não. Pelo menos, segundo um amigo meu. Ele me questionou sobre essa tese e disse que eu não era bom pai, porra nenhuma:

- Tu só és pai em 1ª, 2ª e 3ª pessoa: amar, prover, conduzir. E na 4ª pessoa? Tu és o quê, otário?

O cara inventa a 4ª conjugação, e o otário sou eu!

- Bicho, não existe 4ª pessoa na língua portuguesa!

- Claro que existe! – insiste o amigo.

- Me dá um exemplo.

- O verbo for...

É claro que eu mandei ele ir... você sabe pra onde. Se ele ainda dissesse “pôr”, que nem é um modo de terminação, e sim uma exceção que confirma a regra, eu até tiraria o chapéu. Mas tudo bem. O importante é que este amigo acabou tornando-se um bom pai. De três pessoas!

Eu sou pai só de uma, a Camila, mas ela vale por três. É uma linda jovem cuja beleza, embora imensa, não é nem de longe a sua melhor qualidade. Ela tem talentos e valores muito mais importantes. Por exemplo: a Camila não curte sertanejo, nem lê Augusto Cury. Só isso, já me deixa muito orgulhoso!

Na verdade, a Camila é a prova viva da evolução da espécie. Além disso, minha filha me transformou num homem melhor. Até porque ser pai é um aprendizado. A gente só apreende a ser pai quando tem um filho, é óbvio. Não dá pra ser pai do Chuck, convenhamos.

E se é claro que ninguém nasce pai, já que todos nascemos filhos, quem se torna pai acaba nascendo de novo. Esse renascimento é fundamental para que o homem se torne um bom pai. Eu tinha 30 anos quando a Camila nasceu. Depois dela, zerou: passei a ter uma existência paralela, na dimensão de pai, onde eu tenho a mesma idade dela. Ela tem 22 anos de idade, eu tenho 22 anos de pai.

É por isso que a gente se entende tão bem, compartilha interesses e experiências. Às vezes, o pai é ela! Se eu saio da linha, lá vem ralho:

- Para pai! Você não tem mais idade de apertar campainha e sair correndo!

Até os nossos amigos se confundem. Os meus amigos são amigos dela, os amigos dela viram amigos meus. Já houve casos de a Camila se interessar por rapazes que, se a minha filha não pegasse, o papai pegava...

A gente se entende e ela me ensina muita coisa. Por exemplo, eu não sabia a diferença entre “ahan” e “uhum”, mas hoje sei. Ninguém sobrevive nas redes sociais sem saber essas coisas básicas da relação humana.

É preciso se comunicar direitinho com os filhos, ou jamais você será um bom pai. Naturalmente, se você tiver 30 anos de idade a mais do que seu filho, como eu tenho, não saia por aí dizendo que “tá de boa”, exclamando “caraca!”, afirmando que “chipou” e nem usando calças rasgadas no joelho. Apenas entenda o que se passa, já é de bom tamanho. Não constranja quem te ama.

 Também não recomendo que você banque o Hank Mood, um sonhador irresponsável, nem se ache o pai da Olívia Pope, o dominador maluco. Seja sereno, não seriado. É importante não envergonhar os filhos. Uma vez ou outra, tudo bem. Mas, vamos combinar: em temporadas, não!

O bom mesmo é rir com os filhos. Eu e Camila rimos muito juntos. Se gargalhada contasse para a Previdência, ela teria se aposentado muito mais nova que o Fernando Henrique Cardoso.

O humor é também uma forma de amor. Assim como o respeito.

Ser um pai presente, por exemplo, é fundamental. Mas não precisa ficar na poltrona da sala quando ela estiver namorando no sofá, cacete! Pelo amor de Deus!

Esse negócio de ciúme não cola. Eu mesmo, que já fui um homem muito ciumento, achei que viraria um pai ciumento. Mas não rolou. Graças a Deus!

- Pai, eu fiquei... – ela me contou, depois que deu o primeiro beijo.

É agora, pensei! Lá vem o monstro!

E nada... Veio aquela aflição. Minha filha estava me contando que deu o primeiro beijo. Nessas horas, o pai precisa dizer alguma coisa!

- Ela beija bem?

Foi o que saiu... Fazer o quê, né? Pior seria se eu fizesse cara de marido. Não dá. Deixa a menina sambar em paz. Ninguém é feliz sob custódia. Desconfiança de pai pra filha deveria ser crime inafiançável.

A liberdade é uma responsabilidade que a gente vai adquirindo aos poucos. Nenhuma criança será um adulto livre se a ela não for dada a possibilidade de aprender a ser responsável enquanto descobre a liberdade. Eventualmente, abusando dela. E daí? Quem não?

O pai chato, controlador, ciumento, intransigente, severo, enfim, o pai desrespeitoso e mal humorado nada mais é do que um pai infeliz.

Pior que isso. O pai desrespeitoso é pai de um filho infeliz.

Isso é imperdoável.

Tenho a felicidade de ser pai de uma filha feliz. Livre, responsável e feliz. E como serei pai dela para sempre, já que, aparentemente, a Camila não tem vontade de me matar, continuo firme na missão de amar, prover e conduzir.

Conduzindo-a, agora, de mãos dadas, lado a lado; provendo-a, já com a ajuda dela; e amando-a como ela me ensinou a amar. Com humor e respeito, com deveres e direitos, inquietude e alegria, humildade e sabedoria, cumplicidade e encantamento.

Por conta de tudo isso, também amo a Camila com enorme gratidão.

Muito obrigado, minha Florzinha, por ser minha filha.

Ou eu não estaria vivo, hoje, neste Dia dos Pais.
Link
Tags »
Notícias Relacionadas »
Comentários »
Jornal In Foco Publicidade 1200x90