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22/05/2019 às 15h29min - Atualizada em 22/05/2019 às 15h29min

Chico Buarque ganha o 31º Prêmio Camões (mais) pelo peso do nome e da produção como compositor

Romances constituem a parte menos relevante do conjunto da obra do artista.

- Jornal In Foco
G1
Ao agraciar Chico Buarque com o Prêmio Camões, os jurados da 31ª edição do prêmio de literatura em língua portuguesa – concedido desde 1988 em parceria dos governos do Brasil e de Portugal – foram sutis ao justificar a láurea com o uso da palavra "transversalidade".
 
Chico Buarque ganha o 31º Prêmio Camões "pela qualidade e transversalidade da obra". Em bom português, isso quer dizer que o artista carioca está sendo premiado também pelo conjunto de obra musical que, desde que foi apresentada nos anos 1960, já se revelou singular, primorosa no uso da palavra, ainda que tenha sido (mais) depurada com o tempo.
 
Como escritor, Chico cruzou o universo da música desde 1967, escrevendo peças, livros e romances. Mas somente se assumiu plenamente escritor em 1991, ano da edição do primeiro romance do artista, Estorvo.
 
Recebido com respeito reverente, mas sem real entusiasmo, o livro Estorvo foi lançado quando o escritor já era beneficiado pelo peso do nome do compositor, àquela altura já devidamente consagrado como um dos maiores criadores da música brasileira de todos os tempos.
 

Chico Buarque tem cinco romances editados de 1991 a 2014 
 
Não se trata de desmerecer a produção de Chico Buarque como romancista. Mas a concessão do Prêmio Camões ao artista deixa no ar uma pergunta impossível de ser respondida: se não existisse a obra do compositor, o escritor estaria sendo premiado pelos romances Estorvo (1991), Benjamim (1995), Budapeste (2003), Leite derramado (2009) e O irmão alemão (2014)?
 
A resposta não pode ser dada simplesmente porque o compositor existe e é extraordinário, não somente como melodista – mérito muitas vezes negligenciado em virtude das letras invariavelmente precisas – mas como artesão de versos que são, por si só, obras de arte literária.
 
Enfim, o nome de Chico Buarque de Hollanda tem peso. E pesou na balança dos jurados porque esse nome carrega o peso da obra musical, da coerente postura ideológica – mantida sobretudo em épocas polarizadas como a atual – e das peças de teatro que escreveu com igual maestria.
 
Os romances são parte do conjunto dessa obra. E uma parte que, embora ainda em progresso, no todo, não é nem nunca foi a mais interessante ou relevante na construção da grande obra do artista na transversal do tempo.
 
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