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02/05/2018 às 14h42min - Atualizada em 02/05/2018 às 14h42min

EUA interrompem negociação e decidem aplicar medidas restritivas sobre aço e alumínio brasileiro, diz governo

Setor de alumínio indicou preferência por sobretaxa de 10% e, o de aço, quotas de importação. Governo diz que está disposto a adotar 'todas as ações' para preservar direitos e interesses.

Ana Paula Andreolla - Jornal In Foco
g1.globo.com
Governo dos EUA interrompe negociações e decide impor medidas restritivas imediatas sobre aço e alumínio brasileiros (Foto: REUTERS/Peter Power)
O governo informou nesta quarta-feira (2) que os EUA interromperam as negociações e decidiram aplicar, imediatamente, medidas restritivas para a importação de aço e alumínio brasileiro que estavam temporariamente suspensas.
 
De acordo com o governo, a Casa Branca ofereceu ao Brasil a opção de sobretaxa ou quotas de exportação. O setor de alumínio deve optar pela primeira e, o de aço, pela segunda. (leia mais abaixo)
 
As tarifas entraram em vigor no dia 23 de março para todos os países, exceto Canadá e México. No caso de Brasil, Austrália, Argentina, Coreia do Sul e União Europeia, houve acordo preliminar para isenção temporária da sobretaxa até 30 de abril, quando chegou ao final o prazo das negociações.
 
Na segunda (30), a Casa Branca havia anunciado um acordo preliminar com o Brasil sobre o tema, cujos detalhes seriam finalizados em até 30 dias, e a prorrogação da medida que isentou o país da sobretaxa.
 
Entretanto, em nota divulgada nesta quarta, o Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC) e o Ministério das Relações Exteriores informaram que os EUA decidiram interromper as negociações e aplicar medidas restritivas imediatamente.
 
"No dia 26 de abril, as autoridades norte-americanas informaram decisão de interromper o processo negociador e de aplicar, imediatamente em relação ao Brasil, as sobretaxas que estavam temporariamente suspensas ou, de forma alternativa e sem possibilidade de negociação adicional, quotas restritivas unilaterais", diz a nota.
 
Mais tarde nesta quarta, o ministro da Indústria, Marcos Jorge, explicou que, para o governo brasileiro, a prorrogação da isenção, anunciada pelos EUA na segunda, não está valendo porque não foi oficializada até o momento
 
"Até que hajam atos publicados nós não tomamos [a isenção] como uma decisão que foi tomada pelo governo norte-americano", disse Jorge.
 
Sobretaxa e quota
De acordo com o MDIC, o governo norte-americano ofereceu ao Brasil a possibilidade de sobretaxa ou então de definição de quotas de exportação de aço e alumínio brasileiro, em que a sobretaxa não seria aplicada.
 
A nota informa que "diante da decisão anunciada pelos EUA, os representantes do setor de alumínio indicaram que a alternativa menos prejudicial a seus interesses seria suportar as sobretaxas de 10% inicialmente previstas. Já os representantes do setor do aço indicaram que a imposição de quotas seria menos restritiva em relação à tarifa de 25%."
 
O Brasil é o segundo maior exportador de aço para os EUA. O peso dos EUA é maior entre os produtos semimanufaturados - em janeiro deste ano, por exemplo, eles compraram 53% do total exportado pelo Brasil.
 
Em 2017, foram exportados aos EUA US$ 2,63 bilhões em aço, o equivalente a 33% das vendas brasileiras do produto para o exterior, segundo dados oficiais do Ministério da Indústria e Comércio Exterior (MDIC). Além disso, o Brasil exportou no ano passado US$ 120,7 milhões em alumínio para EUA, cerca de 15% do total vendido para o exterior.
Ações necessárias
Na nota, o governo brasileiro também lamenta a suspensão das negociações pelo governo dos EUA e informa que segue "aberto a construir soluções razoáveis para ambas as partes." Entretanto, apontou que pode adotar medidas "nos âmbitos bilateral e multilateral" contra as restrições impostas pelo presidente Donald Trump.
 
"O governo brasileiro mantém a expectativa de que os EUA não prossigam com a aplicação de restrições, preservando os fluxos atuais do comércio bilateral nos setores de aço e alumínio. Em todo caso, seguirá disposto a adotar, nos âmbitos bilateral e multilateral, todas as ações necessárias para preservar seus direitos e interesses."
 
Leia a íntegra da nota do governo sobre a decisão dos EUA de aplicar medidas restritivas ao aço e ao alumínio brasileiros:
 
Nota à imprensa dos ministros da Indústria, Comércio Exterior e Serviços e das Relações Exteriores - restrições americanas às exportações de aço e alumínio
 
No dia 30 de abril, o governo dos Estados Unidos informou ter chegado a acordo preliminar no que diz respeito às restrições às importações de aço e alumínio provenientes do Brasil.
 
2. Desde o início das investigações do Departamento de Comércio dos EUA, no primeiro semestre de 2017, o governo brasileiro, em coordenação com o setor produtivo nacional, buscou evitar a aplicação das medidas restritivas às exportações do Brasil. Além do permanente trabalho realizado pela Embaixada em Washington, houve envolvimento de diversas outras autoridades brasileiras, inclusive dos ministros Aloysio Nunes Ferreira e Marcos Jorge. Foram realizadas sucessivas reuniões e gestões com representantes norte-americanos do Executivo, do Congresso e do setor privado. Esse processo teve como consequência a inclusão do Brasil, em 23 de março, no grupo dos países em relação aos quais foi suspensa, provisoriamente, o início da aplicação de sobretaxas de 25% às importações de aço e de 10% às importações de alumínio, para dar espaço a negociações que resultassem em exclusão global das medidas para os produtos brasileiros.
 
3. Em todas as ocasiões, esclareceu-se ao governo americano e a outros atores relevantes naquele país que os produtos do Brasil não causam ameaça à segurança nacional dos EUA. Ao contrário, as indústrias de ambos os países são integradas e se complementam. Cerca de 80% das exportações brasileiras de aço são de produtos semiacabados, utilizados como insumo pela indústria siderúrgica norte-americana.
 
4. As empresas brasileiras vêm fazendo grandes investimentos nos EUA e já são responsáveis por parcela relevante da produção e dos empregos no setor siderúrgico americano. Ao mesmo tempo, o Brasil é o maior importador de carvão siderúrgico dos Estados Unidos (cerca de US$ 1 bilhão, em 2017), principalmente destinado à produção brasileira de aço exportado àquele país.
 
5. Indicou-se que, no caso do alumínio, as exportações brasileiras são muito reduzidas. E foi salientado que, nos últimos anos, os EUA vêm obtendo superávit no comércio de alumínio com o Brasil. Além disso, recordou-se que as indústrias nos dois países são complementares, uma vez que o Brasil fornece matéria-prima para os EUA nesse setor.
 
6. Foi explicado, também, que, dadas as características de integração vertical da produção brasileira, os custos logísticos e as medidas de defesa comercial adotadas pelo Brasil, não há risco de que o país sirva como plataforma de "triangulação" de produtos de aço e de alumínio de outros países para o mercado americano.
 
7. Em termos gerais, argumentou-se que eventuais medidas restringiriam as condições de acesso ao mercado dos Estados Unidos e causariam prejuízos às exportações brasileiras de alumínio e aço, com impacto negativo nos fluxos bilaterais de comércio, amplamente favoráveis aos Estados Unidos em cerca de US$ 250 bilhões nos últimos dez anos.
 
8. No entanto, no dia 26 de abril, as autoridades norte-americanas informaram decisão de interromper o processo negociador e de aplicar, imediatamente em relação ao Brasil, as sobretaxas que estavam temporariamente suspensas ou, de forma alternativa e sem possibilidade de negociação adicional, quotas restritivas unilaterais.
 
9. Diante da decisão anunciada pelos EUA, os representantes do setor de alumínio indicaram que a alternativa menos prejudicial a seus interesses seria suportar as sobretaxas de 10% inicialmente previstas. Já os representantes do setor do aço indicaram que a imposição de quotas seria menos restritiva em relação à tarifa de 25%.
 
10. Cabe ressaltar que quaisquer medidas restritivas que venham a ser adotadas serão de responsabilidade exclusiva do governo dos EUA. Não houve ou haverá participação do governo ou do setor produtivo brasileiros no desenho e implementação de eventuais restrições às exportações brasileiras.
 
11. O governo brasileiro lamenta que o processo negociador tenha sido interrompido e reitera seguir aberto a construir soluções razoáveis para ambas as partes. Ademais, reitera sua convicção de que eventuais medidas restritivas não seriam necessárias e não se justificariam sob nenhuma ótica. Está convencido, ademais, de que, além do impacto negativo sobre as exportações brasileiras e sobre o comércio bilateral, seriam prejudiciais à integração dos setores produtivos dos dois países e a setores da economia dos EUA que utilizam insumos de qualidade provenientes do Brasil.
 
12. O governo brasileiro mantém a expectativa de que os EUA não prossigam com a aplicação de restrições, preservando os fluxos atuais do comércio bilateral nos setores de aço e alumínio. Em todo caso, seguirá disposto a adotar, nos âmbitos bilateral e multilateral, todas as ações necessárias para preservar seus direitos e interesses.
 
Ministro Marcos Jorge e ministro Aloysio Nunes Ferreira
 
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